HZ059-B – Sociologia da Tecnologia

INÍCIO


INSTITUIÇÃO: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
CURSO: Curso de Graduação em Ciências Sociais (44).
ANO LETIVO: 2022.
PERÍODO: 1º.
DISCIPLINA: HZ059-B – Sociologia da Tecnologia
DOCENTE: Pedro P. Ferreira.
AULAS: Quarta-feira das 19h às 23h.
CARGA HORÁRIA TOTAL: 60h.
CRÉDITOS: 4.

PROGRAMA E PLANO DE DESENVOLVIMENTO
Esta disciplina pretende ser uma introdução teórica e empírica ao campo da sociologia da tecnologia, exercitando algumas abordagens clássicas (Marx, Weber e Durkheim) e contemporâneas, com foco na Teoria Ator-Rede (TAR).

O conteúdo das aulas será desenvolvido em dois níveis simultâneos e alternados: (1) um teórico-conceitual, composto por leituras e debates de textos clássicos e contemporâneos; e (2) um empírico-metodológico, composto por uma análise sociotécnica a ser desenvolvida em grupo ao longo do semestre.

    (1) NÍVEL TEÓRICO-CONCEITUAL: Com relação ao nível teórico, serão lidos e debatidos textos clássicos e contemporâneos, relevantes no campo da sociologia da tecnologia, com o objetivo de introduzir a classe em algumas problemáticas de pesquisa e desenvolvimentos teórico-conceituais do campo. Especialmente importante nesse nível teórico será o contato com a ontologia maquínica de Gilbert Simondon, Gilles Deleuze e Félix Guattari, como um fio condutor entre os clássicos e os contemporâneos, e em especial com a TAR. As leituras previstas na disciplina foram reunidas em pdfs disponibilizados abaixo, na seção “Biblliografia – Seleções de textos”, e listados abaixo, na seção “Bibliografia – Listagem de textos”. As 15 aulas da disciplina serão distribuídas em 4 blocos principais, de forma não totalmente linear (aspectos do bloco 4 serão antecipados para orientar a pesquisa empírica):

      1 – Abordagens clássicas: buscarei abordar aqui as perspectivas de Marx, Weber e Durkheim sobre a tecnologia.
      2 – Desvio filosófico: a ontologia maquínica de Simondon, Deleuze e Guattari.
      3 – Abordagens contemporâneas: tecnologia e trabalho, classe, gênero, raça, ambiente, cultura, economia, religião etc.
      4 – Teoria Ator-Rede: serão enfatizados os conceitos de “centro de cálculo” e “mediação técnica”, como recursos metodológicos para o estudo sociológico da tecnologia.

    (2) NÍVEL EMPÍRICO-METODOLÓGICO: Quanto ao nível empírico, a classe será dividida em grupos, que deverão realizar, ao longo do semestre e sob supervisão do docente, uma análise sociológica de alguma realidade sociotécnica (a ser definida conjuntamente). Estudantes que já tenham interesses definidos de pesquisa podem aproveitar a oportunidade para investigar algum aspecto técnico ou tecnológico de seu objeto, campo ou tema. Estudantes que não tenham interesses de pesquisa definidos serão apoiados na circunscrição de alguma realidade sociotécnica para investigar. A intenção deste nível é explorar as inúmeras possibilidades atualmente existentes de recortes e abordagens sociológicas de realidades sociotécnicas, desde simples artefatos concretos até complexos sistemas abstratos. Usaremos boa parte das primeiras aulas para conversar sobre a investigação a ser realizada. O objetivo dessas conversas será o amadurecimento e a definição, em conjunto e em sala de aula, das realidades sociotécnicas a serem investigadas, e das abordagens a serem adotadas. Essas investigações devem ser realizadas idealmente em grupo, mas investigações individuais também serão aceitas. A partir da metade do semestre, a pesquisa já deve estar em andamento.

Esta divisão entre teoria e empiria é apenas didática, sendo que os textos se referirão a realidades empíricas, e a análise empírica permitirá a experimentação teórico-conceitual a partir dos textos. Cada aula terá uma parte mais teórica, centrada na leitura e debate de textos, e outra mais empírica, centrada na exploração pontual de possibilidades analíticas.

AVALIAÇÃO
A nota final nesta disciplina será a média das notas recebidas em dois itens de avaliação: (1) uma breve apresentação, em sala de aula e em grupo, dos resultados da investigação empírica; e (2) um relatório individual articulando claramente, pelo menos uma leitura da bibliografia, e a investigação empírica realizada.

    (1) APRESENTAÇÃO FINAL EM GRUPO: A apresentação final em grupo deve sintetizar a investigação realizada, e indicar possíveis articulações com as leituras e discussões realizadas ao longo do semestre. Essa apresentação deve durar entre 15 e 20 minutos, pode usar os recursos multimídia disponíveis na sala (microfone, projetor, computador etc) e deve contar com a presença de todes es integrantes do grupo (nem todes integrantes precisam falar durante a apresentação). As apresentações acontecerão nas aulas dos dias 15, 22 e 29 de junho, segundo o cronograma definido coletivamente.
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    (2) RELATÓRIO FINAL INDIVIDUAL: O relatório individual deve ser redigido individualmente por cada estudante, e entregue via Atividade específica no Classroom. O relatório final individual pode ser entregue a partir da data da apresentação em classe, e o prazo final para a entrega é 18/07. O relatório deve ser entregue em formato PDF, deve ter entre 5 e 10 páginas, e deve articular, de maneira satisfatória, a investigação empírica realizada com pelo menos uma (mas idealmente duas ou três) leitura da bibliografia. O relatório deve ser escrito de forma clara e correta, seguindo as normas acadêmicas usuais de citação e referenciamento. Relatórios considerados insatisfatórios, ou que estejam excessivamente fora dos padrões, precisarão ser refeitos para melhorar a avaliação.

BIBLIOGRAFIA – Seleções de textos

FERREIRA, Pedro P. (Seleção). 2022. Leituras de Sociologia da Tecnologia I [Clássicas]. Seleção de textos para a disciplina “HZ059-B – Sociologia da Tecnologia”, do Curso de Graduação em Ciências Sociais da Unicamp (1S2022). Latoratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

FERREIRA, Pedro P. (Seleção). 2022. Leituras de Sociologia da Tecnologia II [Contemporâneas]. Seleção de textos para a disciplina “HZ059-B – Sociologia da Tecnologia”, do Curso de Graduação em Ciências Sociais da Unicamp (1S2022). Latoratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

FERREIRA, Pedro P. (Seleção). 2022. Leituras de Sociologia da Tecnologia III [Teoria Ator-Rede (TAR)]. Seleção de textos para a disciplina “HZ059-B – Sociologia da Tecnologia”, do Curso de Graduação em Ciências Sociais da Unicamp (1S2022). Latoratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

FERREIRA, Pedro P. (Seleção). 2022. Leituras de Sociologia da Tecnologia IV [Imagens]. Seleção de imagens para a disciplina “HZ059-B – Sociologia da Tecnologia”, do Curso de Graduação em Ciências Sociais da Unicamp (1S2022). Latoratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

FERREIRA, Pedro P. (Seleção). 2022. Leituras de Sociologia da Tecnologia. Seleção de textos. Laboratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

FERREIRA, Pedro P. (Seleção). 2022. Leituras de Teoria Ator-Rede: para uma Sociologia da Tecnologia. Seleção de textos. Latoratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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BIBLIOGRAFIA – Listagens de textos

I – Clássicos

    BENJAMIN, Walter. 1994. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. (Trad.: Sérgio P. Rouanet) São Paulo: Brasiliense, pp.165-96. [1935-6]
    COLLINS, Randall. 1986. A theory of technology. In: Weberian sociological theory. Cambridge: Cambridge University Press, pp.77-116.
    DURKHEIM, Émile. 1995. O que é um fato social? In: As regras do método sociológico. (Trad.: Paulo Neves) São Paulo: Martins Fontes, pp.1-13. [1895]
    FREUND, Julien. 2003. Considerações sobre a técnica. In: Sociologia de Max Weber. (Trad.: Luís Cláudio de Castro e Costa) Rio de Janeiro: Forense Universitária, pp.201-4. [1966]
    GELL, Alfred. 1988. Technology and magic. Anthropology Today 4(2):6-9.
    GELL, Alfred. 2005. A tecnologia do encanto e o encanto da tecnologia. (Trad.: Jason Campelo) Concinnitas 8(1):40-63. [1998]
    LÉVI-STRAUSS, Claude. 1989. A ciência do concreto. (Trad. Tânia Pellegrini) In: O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, pp.15-49. [1962]
    MALEY, Terry. 2004. Max Weber and the iron cage of technology. Bulletin of Science, Technology & Society 24(1):69-81.
    MARX, Karl. 2011. Capital fixo e desenvolvimento das forças produtivas da sociedade. In: Grundrisse – Manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. (Trads.: Mario Duayer; Nélio Schneider) São Paulo: Boitempo, pp.483-98. [1857-8]
    MARX, Karl. 2011. Maquinaria e grande indústria. In: O capital: crítica da economia política. Vol.1. (Trad. Rubens Enderle) São Paulo: Boitempo, pp.548-703. [1867]
    MAUSS, Marcel. 2002. Technologie. In: Manuel d’ethnographie. Les Classiques des Sciences Sociales. Chicoutimi: Université du Québec, pp.22-64. [1926]
    MAUSS, Marcel. 2003. As técnicas do corpo. (Trad.: Paulo Neves) In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, pp.399-422. [1934]
    MAUSS, Marcel. 2006. Technique, technology and civilisation. Berghahn Books.
    PINCH, Trevor. 2010. The invisible technologies of Goffman’s sociology: from the Merry-Go-Round to the Internet. Technology and Culture 51(2):409-24.
    SELL, Carlos E. 2011. Máquinas petrificadas: Max Weber e a sociologia da técnica. Scientiae Studia 9(3):563-83.
    WEBER, Max. 2005. Remarks on technology and culture. Theory, Culture & Society 22(4):23-38. [1910]

II – Contemporâneos

    CRAWFORD, Kate; JOLER, Vladan. 2020. Anatomia de um sistema de inteligência artificial: o Amazon Echo como mapa anatômico de trabalho humano, dados e recursos planetários. (Trads.: Pedro P. Ferreira; Cristiana de Oliveira Gonzalez) ComCiência. 20 de setembro. [2018] Acessível em: https://www.comciencia.br/anatomia-de-um-sistema-de-inteligencia-artificial/
    DELEUZE, Gilles. 1992. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações 1972-1990. (Trad. Peter P. Pelbart) Rio de Janeiro: Ed.34, pp.219-26. [1990]
    DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 2010. Balanço-programa para máquinas desejantes. In: O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. (Trad.: Luiz B. Orlandi) São Paulo E.34, pp.507-34. [1972]
    GARCIA DOS SANTOS, Laymert. 2003. A informação após a virada cibernética. In: Laymert Garcia dos Santos; Maria R. Kehl; Bernardo Kucinski; WalterPinheiro. Revolução tecnológica, internet e socialismo. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, pp.9-33.
    HARAWAY, Donna. 2000. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. (Trad.: Tomaz Tadeu da Silva). In: Tomaz Tadeu da Silva (org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, pp.37-129. [1987]
    KASPER, Christian P. 2006. Tecnologia. In: Habitar a rua. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, IFCH/Unicamp, pp.125-85.
    MELITOPOULOS, Angela; LAZZARATO, Maurizio. 2011. O animismo maquínico. (Trads.: Alessandro C. Sales; Annita C. Malufe; Barbara Szaniecki) Cadernos de Subjetividade 8(13):7-27.
    ROUVROY, Antoinette; BERNS, Thomas. 2015. Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação da relação? Revista Eco Pós 18(2):36-56.
    SILVA Elizabeth P. 1998. Fazendo gênero na cozinha: tecnologias e práticas. Revista Latinoamericana de Estudios del Trabajo 4(7):29-53.
    SIMONDON, Gilbert. 2008. Cultura e técnica. (Trads.: Pedro P. Ferreira; Christian P. Kasper) Nada 11:169-75. [1958]
    SIMONDON, Gilbert. 2020. Prospectus. (Trad.: Maria Fernanda Novo) In: Du mode d’existence des objets techniques. Paris: Aubier. [1958]
    SIMONDON, Gilbert. 2020. Nota complementar sobre as consequências da noção de individuação. In: A individuação à luz das noções de forma e de informação. (Trads.: Luís E.P. Aragon; Guilherme Ivo) São Paulo: Ed.34, pp.507-45. [1958]
    WINNER, Langdon. 2017. Artefatos têm política? (Trads.: Debora P. Ferreira; Luiz H.L. Abraão) Analytica 21(2):195-218. [1980]

III – Teoria Ator-Rede (TAR)

    DENIS, David J. 2020. Why do maintenance and repair matter? In: Anders Blok; Ignacio Farías; Celia Roberts (eds.). The Routledge Companion to Actor-Network Theory. London: Routledge, pp. 283-93.
    GERLITZ, Carolin; WEITEVREDE, Esther. 2020. What happens to ANT, and its emphasis on the socio-material grounding of the social, in digital sociology? In: Anders Blok; Ignacio Farías; Celia Roberts (eds.). The Routledge Companion to Actor-Network Theory. London: Routledge, pp. 345-56.
    LATOUR, Bruno. 1994. Relativismo. In: Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. (Trad.: Carlos Irineu da Costa) São Paulo: Ed.34, pp.91-128. [1991]
    LATOUR, Bruno. 2000. Máquinas; Centrais de cálculo. In: Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. (Trad. Ivone C. Benedetti) São Paulo: Editora da UNESP, pp.169-237; 349-420. [1987]
    LATOUR, Bruno. 2001. Referência circulante; Um coletivo de humanos e não-humanos; Glossário. In: A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. (Trad.: Gilson C. Cardoso de Souza) Bauru: EDUSC, pp.39-96; 201-46; 345-56. [1999]
    LATOUR, Bruno. 2004. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções. (Trad. Marcela Mortara) In: André Parente (org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina, pp.39-63.
    LATOUR, Bruno. 2012. Primeiro movimento: localizando o global. In: Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. (Trad.: Gilson C. Cardoso de Sousa) Salvador, Bauru: EDUFBA-EDUSC, pp.251-75. [2005]
    LATOUR, Bruno. 2015. Cognição e visualização: pensando com olhos e mãos. (Trad.: David Palacios) Terra Brasilis 4. DOI: 10.4000/terrabrasilis.1308. [1986]
    MUNIESA, Fabian. 2015. Actor-network theory. In: International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences. Vol.1. Elsevier, pp.80-4.